
Ilha Canela 24 Fevereiro 2018
Conjuntura de encontros de rio, lago, terra, poeira.
O que está sob, o que está sobre e o torvelim que os aninha
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Nota-livros – os que guardam segredos de pélagos.
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Conjuntura de encontros de rio, lago, terra, poeira.
O que está sob, o que está sobre e o torvelim que os aninha
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Coleção de charco e torrão.
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Conjuntura de encontros de rio, lago, terra, poeira.
O que está sob, o que está sobre e o torvelim que os aninha
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O livro que remanesce
Livro:
Conjunto, reunião de coisas; síncrono de gatilhos entre céu e rio – volume encarnado. Obra em prosa, verso ou vento, de qualquer extensão.
O que emerge do que está sub.
Reminiscências:
Recordação do passado: o que se mantém na memória. Recordação vaga, o que esmaece e permanece. Resíduo, fragmento.
O que está sub e o que emerge.
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O ‘Livro que remanesce’ é um desdobramento do ‘Livro Submerso’ realizado na cidade de Palmas em 2016, durante o evento 'Convergências, Mostra de Performance Arte do Sesc Tocantins’, no qual realizei um projeto/performance site specific, ou seja uma ação pensada para a cidade de Palmas e que não faz sentido de ser, senão ali onde foi realizada.
O desponte para se pensar a proposta para a residência ‘Escala 1:1 – Ações humanas para espaços monumentais’ e que conjuntamente se torna uma oportunidade de dar continuidade a
performance O livro submerso se faz pelo fato do própria proposta da residência colocar a cidade de Palmas como lugar possível não só para a realização dos processos, porém como ser parte deles.
Logo, tomo a Ilha Canela, um torrão remanescente do que beirou um dia o Povoado do Canela, inundado devido a construção da Usina Luiz Eduardo Magalhães, mais ao norte do Rio Tocantins em 2001, o terreno foi desapropriado de forma arbitrária para a construção do lago da usina e os remanescentes do povoado foram realocados para a quadra 508 N, na própria cidade de Palmas.
Há, até hoje, um descaso com os antigos moradores do Canela que vivem em área comprada pela Investco – empresa incumbida pela implantação da usina. O acordo entre a companhia e o poder público foi de oferecer a infraestrutura para os moradores do povoado neste novo-lugar, fato que segue sem ser cumprido, estando os remanescentes vivendo até hoje em vias não pavimentadas, por exemplo(Disponível em: <http://conexaoto.com.br/2011/11/22/ 2
valdemar-e-raul-anunciam-pavimentacao-da-508-norte-onde-vivem-os-moradores-do-antigo-povoado-do-canela>. Acesso em: mar. 2017.)
Os impactos identitários, ou mesmo os mais invisíveis e concomitantemente tangíveis no plano sensível, como a relação dos remanescentes com suas memórias afetivas, tais como, o não poder visitar o local onde se nasceu, as praças onde festas populares aconteciam, o local onde seus mortos foram enterrados não são levados em conta pelo poder público e tampouco pela construtora da usina.
Como a história pode ser literalmente
enterrada(?) – submergiu-se o Povoado do Canela e, ainda que este fato faça parte da história recente do Estado do Tocantins, o que mais encontramos relacionado ao local é a beleza de um atrativo turístico, tendo a reminiscência do povoado se tornado um local de visitação, sinônimo de paraíso, palavra que soterra a violência do processo de desapropriação.
Deste modo dei o primeiro passo rumo a vontade de me aproximar e vivenciar os abismos e afetos presentes nesta terra, hoje água, que foi e é o Povoado do Canela e sobre o qual cativei a Performance o Livro Submerso.
Desde que voltei de Palmas, permaneci com a vontade de pisar no torrão réliquo do que um dia foi o Povoador do Canela, fato que não realizei em minha primeira ida a Palmas. Emerge assim o projeto: 'Livro que remanesce’, o qual parte em busca de uma afluência
possível sobre o encontro de terra e água – de um corpo e suas pegadas, rastros que esmaecem e permanecem.
Residência Artística: Escala 1:1 – Ações humanas para espaços monumentais fevereiro/Março 2018, Palmas-Tocantins, Brasil
Fotografias e video: Marcela Antunes